terça-feira, 30 de agosto de 2011

O VERDE É AZUL, O ALVI-NEGRO É ROXO, O RUBRO-NEGRO NÃO APARECE...SINAL DOS TEMPOS

A análise dos artigos esportivos é um campo muito rico para se refletir sobre as profundas transformações pelas quais passam o futebol e a sociedade de modo geral.

O jogo disputado nesta tarde de terça-feira entre Flamengo e CFZ (Centro de Futebol Zico do Rio Sociedade Esportiva), uma partida de jovens sub-15 que definiria o finalista da Copa da Amizade, não proporcionou grandes novidades. Ao contrário, aos olhos mais exigentes, pode-se dizer sem medo que foi um jogo de jovens que preocupam-se com um futebol tão burocrático quanto a maioria das equipes profissionais que acompanhamos cotidianamente. Um zero a zero daqueles "oxo", como disse certa vez Walter Abraão.

Contudo, um detalhe chamou a atenção. No meio do jogo, na transmissão do Esporte Interativo se reproduziu a afirmação de um internauta: "Muito bonito ver a camisa do Flamengo sem patrocinador". Logo, a frase foi seguida pelo cuidadoso comentário do jornalista: "É. Não estamos acostumados a ver jogos com a camisa assim...".

Não estamos mais acostumados com as camisas de nossos clubes! E o pior é que é isso mesmo!


As camisas estão soterradas por um  emaranhado de logomarcas das mais variadas formas e cores. Um verdadeiro palimpsesto que se formou no que se tem de mais emblemático no universo do futebol. Simbologia que, sem exagero, para se manter viva tem que ser cuidadosamente procurada pelos apaixonados.

O patrocínio acabou por resultar não apenas na sobreposição, mas na literal substituição dos tradicionais fardamentos - como os mais antigos chamavam os jogo-de-camisas, para se usar uma expressão, hoje, já difícil também de se ouvir.

Alterações colossais são feitas regularmente nos uniformes que passam a incorporar, cada vez mais, a ideia da marca e, obviamente, a se distanciar na mesma intensidade da tradição do clube.

Na segunda-feira, por exemplo, após o Derby entre Palmeiras e Corinthians, deu-se um caso exemplar.

Numa sala do ensino médio, 5 rapazes foram com suas respectivas camisas dos clubes de coração.


Eram 4 palmeirenses felizes com a vitória do dia anterior que exibiam orgulhosos suas camisas do time de Parque Antártica, camisas da cor... azul, sendo que a que chegava mais próxima do verde, era, na verdade, um limão fosforescente.

Já, o marrento corinthiano, desejoso por mostrar seu amor mesmo nos momentos de adversidade, vestia uma camisa em que o alvi-negro do Parque São Jorge vinha... de roxo.

Verde-esmeraldino e alvi-negro não eram vistos naquele colorido que se formou pelo amor aos clubes e ao futebol que, ao menos por enquanto, parecem permanecerem de certa forma perpetuados.

Ah! E se alguém tem essa curiosidade, o sub-15 do Flamengo ganhou nos pênaltis.

2 comentários:

  1. Verdade Luciano, na verdade nosso futebol se europolizou(desculpe o trocadilho) nas camisas, na maneira de jogar, nas músicas nas arquibancadas. Ainda bem que tenho minha camisa de algodão decada de 80 branca, aliás, amarelada por causa do tempo.

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  2. Neoliberalismo e subserviência, meu caro Pablo. Tentamos dar nossas escapadas, mas não é fácil...

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