sexta-feira, 19 de agosto de 2011

MAIS DOS DISTÚRBIOS DE LONDRES E O BRASIL - DEPOIMENTO DE UM SÁBIO NEGRO INDIGNADO

O Jornal da Cultura trouxe esta semana uma entrevista realizada pela BBC - a emissora pública britânica - com um morador da periferia de Londres.

Ao ser questionado se condena os distúrbios, o morador diz de primeira: "Porque condenaria?". 


A apresentadora da BBC iniciou a entrevista perguntando para Mr. Dowe se ele estava chocado com o que viu nas ruas. O sábio senhor, negro, migrante, responde que não. E ele é quem passa a chocar.

Quem falava de maneira enfática, não era um idoso qualquer. Era a sensibilidade, emoção e  vivência daquele Velho - o termo aqui se relaciona ao detentor de sabedoria, da tradição.

O Velho Dowe trouxe à tona ensinamentos a partir de sua vida familiar, abordando não apenas o contexto de Londres, mas, como ele mesmo diz, as tensões encontradas diversas partes do mundo.

Ao analisar o forte depoimento, âncora do Jornal da Cultura traz a indagação:
"Por que no Brasil tais disturbios não acontecem?".

E logo, o mito da democracia racial, como sempre, acaba sendo evocado. O comentarista e cientista político desenha um Brasil como se houvesse uma espécie de escudo.

Até que ponto o Brasil contraria o que o Velho Dowe disse, ou seja, até que ponto o Brasil não sofre com a violência que gera violência, com as contradições de regimes excludentes?

No Brasil estamos vivendo um contexto conturbado, sim, e faz tempo!

De um lado, a mídia que, de modo geral, transmite a versão do Estado nas questões de violência urbana, por exemplo, os tele-jornais. Tem-se, ainda, a difusão de programas, como o "Polícia 24 hs", que, nitidamente, procuram transmitir uma ideia positiva da postura do poder público no setor de segurança pública que, por outro lado, na periferia, há muito não cola.

Vale, nesse sentido, ouvir as constantes denúncias transmitidas pelo RAP dos anos 90 e início dos 2000, principalmente. Lembram-se, amigos, do que diziam os Racionais MCs e tantos outros?

Lembremos, ainda, da guerra que se trava nas salas de aula da diversas escolas públicas espalhadas pelo país. Cotidianamente, professores vivem sob pressão por parte do Estado para que a todo o custo se mantenha a massa de jovens enclausurada - custe o que custar - numa sala de aula. O que importa é mantê-los lá, não é educá-los.

Professores são espancados, agredidos física e moralmente. Jovens são acoados por gangues, num jogo em que se inserem ou se intimidam.

O sábio senhor, que não é inglês nem indiano, mas um homem no deslocamento e, por isso, sensível, fez um discurso que poderia ser daqui...

Estamos, sim, em guerra!

Ou alguém tem dúvida????






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