terça-feira, 25 de outubro de 2016

Carlos Alberto Torres, futebol-arte e seus usos no Brasil dos títulos e dos golpes

Torres em 2011. Disponível em https://
pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Alberto_Torres
Foi-se um personagem marcante da nossa história, o craque Carlos Alberto Torres.

Para muitos o maior lateral direito de todos os tempos...

Para meu finado pai, o segundo. Pois, sempre que ouvia isso meu velho retrucava, afirmando exaltado que Djalma Santos foi insuperável.

Mas, isso não é nada demais. É muito válido se reverenciar a competência, a dedicação, a habilidade e a precisão de Carlos Alberto Torres.

Sobretudo, prestar as honras ao craque “Capita” que, segundo o outro craque Gerson - afirmação feita com olhos embargados - foi eleito na época pelos próprios jogadores da Seleção para colocar a tarja e capitanear aquele esquadrão mitológico, tricampeão em 1970!

A Seleção de 1970. Disponível em:
https://en.wikipedia.org/wiki/Brazil_national_football_team
Um autêntico líder, “naturalmente” eleito pelos seus. Algo que já não corresponde a nossa realidade. Reconhecimento que nem mesmo encontramos em nosso atual Chefe de Estado.


Aliás, por falar em Chefe de Estado, futebol, Tri de 70 e Carlos Alberto Torres, vale lembrar o golaço que marcou o Capita, fechando a final contra a Itália e consagrando a máxima que relaciona Brasil à Futebol-Arte.

Aquilo mesmo que disse Hobsbawm no seu famoso Era dos Extremos: "e quem poderá negar a condição de arte ao futebol brasileiro tricampeão?" - se não exatamente com estas palavras, foi sem dúvida com a mesma ideia.

Golaço! Troca de passes: Clodoaldo, Pelé, Gerson, Clodoaldo e seus dribles desconcertantes, Rivelino, Jairzinho, Pelé e a olhadinha marota com passe açucarado e a patada certeira de Carlos Alberto Torres!






Infelizmente, é automático também lembrar o quanto os ditadores usam e, no caso, o quanto deu sorte o general "presidente" da época, não é mesmo?


Justamente, esse gol - o ápice da Seleção Brasileira e de Carlos Alberto Torres - foi chamado de "Gol do Presidente", já que Emílio Garrastazu Médici, no auge da ditadura civil-militar, havia dito que a final da Copa seria um 4 a 1 para o Brasil.



terça-feira, 11 de outubro de 2016

Golpe, PEC 241, Metrópolis e o futuro pessimista

Estava claro que em poucas horas a notícia da aprovação da PEC 241 chegaria...

Outro dia difícil.

Mais um dia em que nem o futebol me entusiasmava. Temer é o que basta!

Em épocas de neoliberalismo de uma eficácia maior que a do Barcelona de Guardiola em posse de bola, a depressão vence de goleada.

Ver, no máximo, uma França bater a Holanda por um mísero gol não empolgava. Nunca seria suficiente para conter a insistente frase “Vamos tirar o Brasil do vermelho”, de parlamentares nível verde-amarelo CBF.

Assim, procurei num canto esquecido do meu peito minha cinefilia.

Lembrei-me dos muitos filmes que me prometi assistir, mas a falta de tempo e o amor pelo futebol não deixaram.

Busquei via Youtube um clássico do expressionismo alemão: Metrópolis.

O ditador-empresário de Metrópolis,
Jho Fredersen, interpretado por Alfred Abel 
(tvtropes.org).
Michel Temer (commons.wikimedia.com),
de vice à presidente do Brasil (semelhanças?).



Um filme de 1927, de Fritz Lang (o gênio do cinema que recusou trabalhar para Hitler).

Trama que se passa num 2026 dominado por um autocrata, que governa única e exclusivamente para o capital, em benefício de uma elite que se esbalda nas regalias do moderno, em detrimento dos trabalhadores - os que realmente constroem e mantém aquela sociedade - e que. por sua vez, vivem literalmente 
no subsolo.

Obra que serviu de inspiração para “Tempos Modernos” de Charles Chaplin, para os vários e vários filmes de ficção que Hollywood criou por todo o século XX e XXI, para o universo Pop (de Beyoncé e Lady Gaga, por exemplo).

Crítica ao totalitarismo e, ao mesmo tempo, ao posicionamento judeu e ao messianismo. Sem esquecer de Maria e a figura ambígua do feminino.

Enfim, um filme mudo, em preto e branco, de 1927, futurista e muito atual...


Para saber mais sobre “Metrópolis”:



O filme:


segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Domingo sem "ópio", mas com eleições

Desde o 7 a 1, é muito mais difícil pensar no desenrolar dos acontecimentos políticos do país que nas mazelas profundas do nosso futebol.
Gaviões da Fiel, Pacaembu, 3/4/2016,
no derby contra o Palmeiras. (Luciano Deppa)

Ah, Futebol...

Fenômeno que serve para interpretar o contexto da sociedade, uma espécie de espelho, “metáfora da vida” (salve, professor Hilário Franco Jr.!).

Mas, que também em seu sentido mais primário - e de tão óbvio, nem abordamos tanto tal faceta - o futebol serve para entreter, para dar prazeres, para oferecer “simples” distrações.

Como diziam os acadêmicos marxistas dos anos 1970, “o ópio do povo”. Como diz o jornalista sensacionalistada atualidade, “a coisa mais importante, das desimportantes” (Milton Neves).

E ontem, logo eu, queria apenas isso. Uma distração.

Semelhante ao viciado privado de sua droga, eu, desesperado, fazia o controle remoto ferver na busca por uma mísera partida.

E sim. Eu sabia que não estavam previstos jogos por causa das famigeradas eleições.

Claro que eu sabia que a rodada da série A do Brasileiro, só se completaria na segunda.

A Série B? Sei que a rodada se inicia invariavelmente na terça.

Série D? Eu vi o jogão da final, no sábado! Tinha visto a bela vitória do Volta Redonda – que lhe deu o título e rendeu grande festa no Rio de Janeiro – frente ao também tradicional CSA das Alagoas.

Contudo, não sei porque, mas me veio a certeza repentina que a Série C seria jogada no início da noite do domingo... Essas certezas que tenho repentinamente, que nem eu sei de onde tiro. E, claro, para meu desespero, esperei para confirmar que estava errado: só seria jogada a primeira partida decisiva das quartas de final, entre Juventude e Fortaleza, na segunda-feira, praticamente no mesmo horário de Santa Cruz e Palmeiras, pela série A.

Que restou-me, então? Tempo para pensar...

Tempo para se informar sobre a rápida e dolorosa apuração das eleições municipais 2016. Tempo para se inconformar com resultados arrasadores para as nossas instituições democráticas, já tão combalidas pelo golpe de maio que aniquilou 54 milhões de votos, diante do “sim” de 300.

E eu admito que já imaginava que seria assim! E, óbvio também que esse futebol elitizado (gourmetizado, para usar uma expressão tão em voga) também não passa imune a um processo que cada vez mais afasta o povo.

E eu que queria apenas esquecer. Deixar para segunda, para se indignar. Por isso, precisava de um joguinho despretencioso. E um miserável 0 a 0 já estaria bom. Mas, tive que me contentar com o sorriso milhonário de João Dória Jr., cercado por figuras como Geraldo Alckimin e Fernando Capez.

Quanto à merenda? … Quem lembra? Só a Gaviões da Fiel, que ao deixar o “ópio”, apanha como nunca por insistir em lembrar...