quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Botafogo x Nacional, Peñarol x Palmeiras: Libertadores 17 e o Uruguai tão perto de 50

Obdúlio Varela
(pt.wikipedia.com)
Na primeira metade do século XX só deu Uruguai. Depois do bi-olímpico (1924-28), veio a 1ª Copa do Mundo (1930) e a Copa no Brasil, em pleno Marcanã (1950).

Sucesso!

Feitos espetaculares que consagraram a hegemonia da Celeste Olímpica, ao mesmo tempo em que parecem ter prejudicado o desenvolvimento do futebol nesse país de pequenos limites territoriais, mas de grandes mitos!

E o maior deles, Obdúlio Varela!

Jogador negro, capitão da seleção uruguaia, de forte complexão física que teve muito de sua imagem encorpada pelas crônicas brasileiras, principalmente, depois do fatídico Maracanazo:

“(...) E foi em meio ao silêncio mortal de duzentos e vinte mil brasileiros que Gigghia fez o segundo gol. Avançou como da primeira vez, Bigode recuando, recuando. (...)”
Na visão de quem escreve (Mário Filho), Bigode recuara por ter sido antes coagido pelo capitão uruguaio, à base de agressão física e de assédio moral: 
Tudo começara quando aquele uruguaio dera uns safanões em Gigghia e em Bigode. Gigghia crescera com o carão em público de Obdúlio Varela. Bigode se acabara.” (RODRIGUES FILHO, 1964: 334).

Ou seja, Mário Filho construiu uma narrativa que, pelo viés da violência, tanto fez crescer o poder de Obdúlio Varela e dos uruguaios quanto inseriu a marca da covardia nos jogadores brasileiros.

Algo que em 2017(!) continua à reverberar. É só olhar para a Libertadores desse ano.

Primeiro, os dois eletrizantes confrontos entre Palmeiras e Peñarol: jogos de viradas espetaculares (3 a 2, por duas vezes) e que contou com a presença de um tipo Obdúlio, Felipe Melo, só que dessa vez brasileiro.

Melo ameaçou socar e dessa vez com as milhares de câmeras pode-se afirmar convictamente, socou!

Isso durante uma pancadaria que começou depois que o time brasileiro consolidou sua vitória. Os uruguaios partiram pra cima, fecharam os portões, emboscaram o time e a torcida verde para o apavoramento de qualquer um, de qualquer lado, bastava que tivesse um pouco mais de sanidade.

Em seguida, foi a vez do Nacional. Time e torcida desceram botinas, cotoveladas e pontapés em pleno Engenhão, depois que já tinham a certeza da impossibilidade da vitória diante do aguerrido Botafogo.

Futebol?
Nem Nacional, nem Peñarol.

Mesmo diante das fracas equipes brasileiras, a Libertadores de 2017 mostra que, ao longo desses últimos 67 anos, no Maracanazo quem perdeu mesmo foi o Uruguai.

Felipe Melo e o soco no jogador do Peñarol. (pt.wikipedia.com)



RODRIGUES FILHO, Mário. O negro no futebol brasileiro. 2.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1964.

quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Neymar e PSG explicam o Mundo

pt.wikipedia.org
A premissa que inspira este blog e as reflexões deste apaixonado por Futebol , não canso de repetir, vem de uma definição criada pelo grande historiador Hilário Franco Jr.: “Futebol é metáfora da vida”.

Se é assim, como não aproveitar o caso Neymar e sua transferência para o PSG para perceber esse atual estágio do sistema capitalista, permeado pelo chamado neoliberalismo?

O caso na mídia - especializada ou não – passa por questões mais pessoais, com perguntas do tipo: “você acha que Neymar fez o certo?” “A fera vai ganhar a bola de ouro?” “Vale ir pro fancesão?” “Neymar foi ético?” “Coitadinho do Barcelona”(sic) etc.

Infelizmente, pouco se reflete sobre o quanto a transação Neymar – PSG é representativa nesse mundo “capEtalista”... E antes que você se irrite e me chame de coisas do tipo “petralha”, “comunista”, vamos aos números.

O site da BBC, noticia de forma meio assustada os 222 milhões de euros envolvidos na transação e lembra que o valor “esmaga o recorde anterior”, quando Paul Pogba sai da Juventus de Turin para o Manchester United por 89 milhões.

E aí temos o gráfico das transações milionárias desde 1995 até o “esmagador” Neymar.
Após analisar o gráfico, perceba o porquê até o todo-podero Barcelona chia à respeito do negócio:


O gráfico explica muito desse nosso mundo, é só comparar com os que se referem à economia mundial. 

Lembro de uma matéria da Revista Exame, atualizada em 2015, em que se reproduz dados da ONG britânica Oxfam.

Gráficos que revelaram “dados assustadores sobre a evolução da desigualdade no mundo nos últimos anos” – palavras da própria Exame que, convenhamos, está longe de usar referências vermelhas...

“Na coluna da esquerda, está a proporção da riqueza global. A linha verde é a dos 99% mais pobres e a linha roxa é do 1% no topo”, olhe e - você que não é nenhum Barcelona - se assuste:




“As linhas pontilhadas apontam a concentração no futuro próximo caso a tendência entre 2010 e 2014 continue inalterada”, estamos em 17 (só pra lembrar) repare e sofra:




“A linha roxa é a riqueza nominal dos 80 mais ricos e a linha verde é a riqueza da parcela dos 50% mais pobres”, chore:

A ONG britânica finalizava com as seguintes dicas (entre outras) para mudar a dura realidade:

“Concordar com uma meta global de enfrentamento da desigualdade” (“ah, esses petralha!”);

“Garantir redes de segurança para os mais pobres, incluindo uma garantia de renda mínima” (essa é parte que as panelas menos curtem);

“Introduzir legislação de pagamento igualitário e promover políticas econômicas que deem às mulheres uma recompensa justa” (Temer’osos com o fim das leis trabalhistas?);

“Investir em serviços públicos livres e universais como saúde e educação” (Comunas ingleses?);

É... diante desses números e dessas dicas da Oxfan, diante tamvbém do rumo que o Brasil “decidiu” tomar e do caso Neymar-PSG, fiquemos com as choradeiras dos programas de domingo e acreditando que “querer é poder”, seja para uma Portuguesa de Desportos, seja para um jogador de futebol do Mogi Mirim, seja para um trabalhador terceirizado.
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