quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Porque não é apenas um jogo

Consternado...

Só recorrendo à arte.

Infelizmente, não sei o nome do criador desta obra que descreve muito bem o momento.
Disponível em: http://blogs.diariodepernambuco.com.br/esportes/



quarta-feira, 9 de novembro de 2016

O Periquito cordial, Walt Disney e o Porco neoliberal

Com Crefisa, o Palmeiras oficializou um mascote que parece bem combinar com esses tempos temerosos...

Touro de Wall Street, Charging Bull - o maior
símbolo de poder da bolsa de valores de Nova Iorque,
a representação de alta das ações na bolsa de valores.
Disponível em: https://de.wikipedia.org/
wiki/Datei:Bronzefigur_Charging_Bull.jpg
Gobatto, novo mascote de um Palmeiras de Paulo Nobre
(trader em Bolsas de Valores) e da parceira Crefisa
(empresa de crédito, financiamento e investimento). 
http://torcedores.com/noticias/2016/11/voce-viu-
palmeiras-lanca-porco-como-novo-mascote-e-apresenta-gobatto





























Antes, um pouquinho de história...

“É mais fácil a cobra fumar que o Brasil entrar na Guerra”. Esta frase, creditada a muitos, era recorrente naqueles tempos de 2ª Guerra Mundial.

Mas não é que, mesmo aos trancos e barrancos, brasileiros foram mandados para lá?
Através da Força Expedicionária Brasileira, os chamados pracinhas foram parar naquela gelada, literalmente, pois vivia-se o rigoroso inverno europeu.

Já eram fins de 1944 e também momentos finais da Grande Guerra. E ao chegar, o comando da FEB notou que seus aliados estadunidenses – que passavam a ser a grande referência – possuíam uniformes com um distintivo colorido. 
Distintivo da FEB. Disponivel em: https://pt.wikipedia.org/wiki/
Ficheiro:Brazilian_Expeditionary_Forces_insignia_
(smoking_snake).svg

Assim, as vestes brasileiras, apesar de sua precariedade, tinham também que ter seu escudo! E nada poderia ser mais interessante que uma cobra, uma cobra que estava fumando em plena 2ª Guerra Mundial!

Desenhou-se um réptil que, contrariando a lógica, não só fumava como tinha um olhar que não chegava a constranger, a oprimir. Pode-se dizer que era uma espécie de simpático brasileiro (ou “Homem Cordial”, como disse Sergio Buarque de Holanda), como uma cobra que ao invés de expelir veneno, fumava um cachimbo (da paz?), e que ironicamente tinha ido à luta no inóspito território europeu, em plena Guerra, mesmo sem grandes recursos (seria o cachimbo uma arma?).

Um símbolo, é bom lembrar, que não foi substituído pela versão criada e sugerida à FEB por Walt Disney em pessoa e veiculado pelo jornal O Globo, em 22 de fevereiro de 1945 – em mais uma das ações da “Política da boa vizinhança”, do governos dos EUA em relação à América Latina, e, em especial, ao Brasil.
A "concepção magistral" de Walt Disney, segundo O Globo. 
Disponíevel em: http://henriquemppfeb.blogspot.com.br/
2011/02/cobra-fumando-walt-disney-feb_22.htm.

Uma recusa que pareceu óbvia à FEB, pois a cobra de Disney estava muito mais para um herói indestrutível ianque, do tipo Charles Bronson, que para um Macunaíma ou um Mazaropi. Estes, típicos (anti)heróis tupiniquins, tão falhos e tão cativantes ao mesmo tempo.

Enfim, naquele momento, a FEB com a sua “humilde” cobra conseguiu preservar o espírito antibelicista, dialógico, ambíguo que marca a ideia do ser brasileiro. Assim, deixava-se de lado a cobra de Walt Disney, que era evidentemente bélica demais para nossa cultura. 



Já, domingo passado...


Gobatto e o Periquito, no Allianz Parque (6/11/16). 
Disponíevel em: http://www.palmeiras.com.br/news/2016/11/07/palmeiras-oficializa-porco-como-mascote-e-faz-apresentacao-a-torcida-no-estadio.shtml#.WCHlri0rKM8

Apesar da passagem dos anos, a tendência iniciada pelo O Globo, lá em 1945, parece se fazer presente.

É o caso da Sociedade Esportiva Palmeiras. Seu tradicional mascote, o Periquito, agora conta com um parceiro oficializado no último domingo, o porco Gobatto.

Que ironia... o clube que um dia teve que provar, à custa de sua própria existência, sua brasilidade (alterando o próprio nome, escrevendo hino, reforçando o mascote), agora assume contornos parecidos com o proposto por Walt Disney para a FEB, há quase um século atrás.

Mais irônico ainda é lembrar que, em 1942, o Palestra foi forçado a se tornar Palmeiras devido à própria 2ª Guerra e à aliança que Estados Unidos e Brasil haviam acabado de costurar e que culminou com a declaração de guerra contra a Itália e o envio das tropas brasileiras para o conflito.

Aqui não vai nenhuma crítica ao Porco, cantado e reverenciado pela torcida desde a década de 1980 em resposta à pecha imposta pelos adversários, derivada do preconceito sofrido pela colônia italiana desde sua chegada à São Paulo, na virada do século XIX para o XX.

A questão mora na evidente característica agressiva do personagem Gobatto (referência a um antigo diretor de marketing do Palmeiras, da década de 1980).

Enquanto o Periquito, mesmo que reestilizado a pouco, sempre esbanjou simpatia, Gobatto traz características bem diferentes.

A ave que tornou-se mascote, nasceu do verde predominante da antiga camisa palestrina, ainda em 1917, e da multidão deles que se fazem presentes nas Perdizes - bairro que abriga o Palestra Itália, agora, Allianz Parque. Periquito que sempre fez questão de mostrar-se amigável e astucioso (bom de bola, principalmente).

Por outro lado, o novo símbolo, nem um porco é. Na verdade, trata-se de um Javali. O bicho traz altura, dentes e músculos superavantajados. A cara é de poucos amigos. Rigidez o resume. O contraste é nítido em relação a toda a história do clube que através do seu hino sempre quis mostrar que “sabe ser brasileiro”. 

O que fica são questões, como: o que farão com a astúcia do eterno e brasileiríssimo Periquito?

E, principalmente:

Quem é mais agressivo: a torcida uniformizada, o mascote ou os negócios que envolvem o futebol?








O Periquito, trajetória de meados do século XX ao início do XXI. Disponível em: http://www.encontraspbarrafunda.com/barra-funda/sociedade-esportiva-palmeiras.shtml



Para saber mais:


Anais do X encontro do CELSUL. Guimarães & Venturini.

SALUM, A. O. Zé Carioca vai à Guerra. São Paulo, 1996. Dissertação (Mestrado em História) Pontifícia Universidade Católica.

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Carlos Alberto Torres, futebol-arte e seus usos no Brasil dos títulos e dos golpes

Torres em 2011. Disponível em https://
pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Alberto_Torres
Foi-se um personagem marcante da nossa história, o craque Carlos Alberto Torres.

Para muitos o maior lateral direito de todos os tempos...

Para meu finado pai, o segundo. Pois, sempre que ouvia isso meu velho retrucava, afirmando exaltado que Djalma Santos foi insuperável.

Mas, isso não é nada demais. É muito válido se reverenciar a competência, a dedicação, a habilidade e a precisão de Carlos Alberto Torres.

Sobretudo, prestar as honras ao craque “Capita” que, segundo o outro craque Gerson - afirmação feita com olhos embargados - foi eleito na época pelos próprios jogadores da Seleção para colocar a tarja e capitanear aquele esquadrão mitológico, tricampeão em 1970!

A Seleção de 1970. Disponível em:
https://en.wikipedia.org/wiki/Brazil_national_football_team
Um autêntico líder, “naturalmente” eleito pelos seus. Algo que já não corresponde a nossa realidade. Reconhecimento que nem mesmo encontramos em nosso atual Chefe de Estado.


Aliás, por falar em Chefe de Estado, futebol, Tri de 70 e Carlos Alberto Torres, vale lembrar o golaço que marcou o Capita, fechando a final contra a Itália e consagrando a máxima que relaciona Brasil à Futebol-Arte.

Aquilo mesmo que disse Hobsbawm no seu famoso Era dos Extremos: "e quem poderá negar a condição de arte ao futebol brasileiro tricampeão?" - se não exatamente com estas palavras, foi sem dúvida com a mesma ideia.

Golaço! Troca de passes: Clodoaldo, Pelé, Gerson, Clodoaldo e seus dribles desconcertantes, Rivelino, Jairzinho, Pelé e a olhadinha marota com passe açucarado e a patada certeira de Carlos Alberto Torres!






Infelizmente, é automático também lembrar o quanto os ditadores usam e, no caso, o quanto deu sorte o general "presidente" da época, não é mesmo?


Justamente, esse gol - o ápice da Seleção Brasileira e de Carlos Alberto Torres - foi chamado de "Gol do Presidente", já que Emílio Garrastazu Médici, no auge da ditadura civil-militar, havia dito que a final da Copa seria um 4 a 1 para o Brasil.



terça-feira, 11 de outubro de 2016

Golpe, PEC 241, Metrópolis e o futuro pessimista

Estava claro que em poucas horas a notícia da aprovação da PEC 241 chegaria...

Outro dia difícil.

Mais um dia em que nem o futebol me entusiasmava. Temer é o que basta!

Em épocas de neoliberalismo de uma eficácia maior que a do Barcelona de Guardiola em posse de bola, a depressão vence de goleada.

Ver, no máximo, uma França bater a Holanda por um mísero gol não empolgava. Nunca seria suficiente para conter a insistente frase “Vamos tirar o Brasil do vermelho”, de parlamentares nível verde-amarelo CBF.

Assim, procurei num canto esquecido do meu peito minha cinefilia.

Lembrei-me dos muitos filmes que me prometi assistir, mas a falta de tempo e o amor pelo futebol não deixaram.

Busquei via Youtube um clássico do expressionismo alemão: Metrópolis.

O ditador-empresário de Metrópolis,
Jho Fredersen, interpretado por Alfred Abel 
(tvtropes.org).
Michel Temer (commons.wikimedia.com),
de vice à presidente do Brasil (semelhanças?).



Um filme de 1927, de Fritz Lang (o gênio do cinema que recusou trabalhar para Hitler).

Trama que se passa num 2026 dominado por um autocrata, que governa única e exclusivamente para o capital, em benefício de uma elite que se esbalda nas regalias do moderno, em detrimento dos trabalhadores - os que realmente constroem e mantém aquela sociedade - e que. por sua vez, vivem literalmente 
no subsolo.

Obra que serviu de inspiração para “Tempos Modernos” de Charles Chaplin, para os vários e vários filmes de ficção que Hollywood criou por todo o século XX e XXI, para o universo Pop (de Beyoncé e Lady Gaga, por exemplo).

Crítica ao totalitarismo e, ao mesmo tempo, ao posicionamento judeu e ao messianismo. Sem esquecer de Maria e a figura ambígua do feminino.

Enfim, um filme mudo, em preto e branco, de 1927, futurista e muito atual...


Para saber mais sobre “Metrópolis”:



O filme:


segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Domingo sem "ópio", mas com eleições

Desde o 7 a 1, é muito mais difícil pensar no desenrolar dos acontecimentos políticos do país que nas mazelas profundas do nosso futebol.
Gaviões da Fiel, Pacaembu, 3/4/2016,
no derby contra o Palmeiras. (Luciano Deppa)

Ah, Futebol...

Fenômeno que serve para interpretar o contexto da sociedade, uma espécie de espelho, “metáfora da vida” (salve, professor Hilário Franco Jr.!).

Mas, que também em seu sentido mais primário - e de tão óbvio, nem abordamos tanto tal faceta - o futebol serve para entreter, para dar prazeres, para oferecer “simples” distrações.

Como diziam os acadêmicos marxistas dos anos 1970, “o ópio do povo”. Como diz o jornalista sensacionalistada atualidade, “a coisa mais importante, das desimportantes” (Milton Neves).

E ontem, logo eu, queria apenas isso. Uma distração.

Semelhante ao viciado privado de sua droga, eu, desesperado, fazia o controle remoto ferver na busca por uma mísera partida.

E sim. Eu sabia que não estavam previstos jogos por causa das famigeradas eleições.

Claro que eu sabia que a rodada da série A do Brasileiro, só se completaria na segunda.

A Série B? Sei que a rodada se inicia invariavelmente na terça.

Série D? Eu vi o jogão da final, no sábado! Tinha visto a bela vitória do Volta Redonda – que lhe deu o título e rendeu grande festa no Rio de Janeiro – frente ao também tradicional CSA das Alagoas.

Contudo, não sei porque, mas me veio a certeza repentina que a Série C seria jogada no início da noite do domingo... Essas certezas que tenho repentinamente, que nem eu sei de onde tiro. E, claro, para meu desespero, esperei para confirmar que estava errado: só seria jogada a primeira partida decisiva das quartas de final, entre Juventude e Fortaleza, na segunda-feira, praticamente no mesmo horário de Santa Cruz e Palmeiras, pela série A.

Que restou-me, então? Tempo para pensar...

Tempo para se informar sobre a rápida e dolorosa apuração das eleições municipais 2016. Tempo para se inconformar com resultados arrasadores para as nossas instituições democráticas, já tão combalidas pelo golpe de maio que aniquilou 54 milhões de votos, diante do “sim” de 300.

E eu admito que já imaginava que seria assim! E, óbvio também que esse futebol elitizado (gourmetizado, para usar uma expressão tão em voga) também não passa imune a um processo que cada vez mais afasta o povo.

E eu que queria apenas esquecer. Deixar para segunda, para se indignar. Por isso, precisava de um joguinho despretencioso. E um miserável 0 a 0 já estaria bom. Mas, tive que me contentar com o sorriso milhonário de João Dória Jr., cercado por figuras como Geraldo Alckimin e Fernando Capez.

Quanto à merenda? … Quem lembra? Só a Gaviões da Fiel, que ao deixar o “ópio”, apanha como nunca por insistir em lembrar...

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Ó PORTUGUESA, NAS TUAS GLÓRIAS, TENHA CERTEZA!

Numa situação difícil a Portuguesa enfrenta o Vitória.

Seria um sonho imaginar que o time do Canindé tem hoje condições iguais ou superiores para superar o Esporte Clube Vitória.

Sonho maior ainda seria dizer que a dificuldade lusa está apenas em se classificar para a próxima fase da Copa do Brasil, ou seja, que precisa apenas de um 1 a 0.
Escudo oficial

Porém, olhando para a história, tais pensamentos poderiam perfeitamente ser a mais pura realidade.

Afinal, falamos da Associação Portuguesa de Desportos:
  • Clube bicampeão paulista: 1935-36.
  • Tricampeão da Fita Azul: 1951-53-54 - título concedido àqueles que valorizavam o nome do Brasil no exterior; e, no caso da Portuguesa, aquele que arrasou clubes de expressão na Turquia, Espanha, Suécia, Inglaterra, França, Alemanha e América do Sul.
  • Entidade que em poucas décadas se estruturou a ponto de ter seu próprio e muito bem localizado estádio - o Canindé, que foi adquirido junto ao São Paulo F. C., ainda em 1956.
  • Verdadeiro esquadrão que compôs a espinha dorsal da Seleção Brasileira para a Copa de 1954: Djalma Santos, Brandãozinho e Julhinho, além de Pinga e Rubens – craques que tinham deixado há pouco a Lusa para jogar por Vasco e Flamengo, respectivamente.
  • Clube que revelou Dener para delírio não só de rubro-verdes, mas de todas as torcidas.
Djalma Santos
Enfim, a situação atual da Lusa é triste, mas nada irreversível.

Pode ser que hoje ela se classifique, mas mais que isso – e aqui fica a torcida – pode ser que ressurja a grande Portuguesa de Desportos, como canta seu hino: 
“Na tua glória, toda certeza, que tu és grande, ó Portuguesa!”.





Imagens: https://pt.wikipedia.org/wiki/Associa%C3%A7%C3%A3o_Portuguesa_de_Desportos.


Consulta:
História da Tri Fita Azul: http://portuguesadedesportosecia.blogspot.com.br/p/historia-da-trifita-azul.html.
Memórias em jogo: futebol, Seleção Brasileira e as Copa do Mundo de 1950 e 54. Disponível no blog.


quinta-feira, 12 de maio de 2016

DO 7 A 1 AO GOLPE, "TEMER" É NOSSA SINA

... e no dia em que temer tomou conta das pautas, o 7 a 1 definitivamente pode ser entendido como "pouco".

Desde o fatídico Minerazzo não escrevia. Não conseguia.

A alegria fugiu das ideias, o entusiasmo escondeu-se da alma, só a angústia chegou perto do coração.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Usu%C3%A1rio:%C3%89rico/Testes/5
O futebol brasileiro foi estraçalhado, em sua própria casa. Mas, o pior ainda viria.

Sabemos que não é só um jogo, é espelho, retrato, reprodução da sociedade.

Portanto, diante do descaso de uns e da alegria (?!) de outros, era inevitável catástrofe maior.

Está aí!

Neste 12 de maio de 2016, o terrível 7 a 1 passa a ser entendido como uma mísera anedota sem graça de nossa história.

O 7 a 1 anunciou a tragédia de mais um golpe nesta república inventada aos moldes verde-amarelo, ou seja, na ideia de que democracia só serve quando a opinião da maioria coincide com a de poucos.

O 7 a 1 foi pouco e para poucos!