quarta-feira, 17 de agosto de 2011

DISTÚRBIOS LONDRINOS E HOOLIGANS

Os disturbios recentes que se estenderam, além de Londres, por Manchester e Birmigham, teriam relação com os holligans, afastados dos estádios há décadas?

“As gangues oferecem uma relação de pertencimento a uma estrutura, uma disciplina, um respeito que os jovens não encontram em nenhum outro lado”, escreve Ann Sieghart no The Independent.
Dentre as tantas outras, esta análise chama a tenção por estar diretamente relacionada à ideia das associações, em geral, de jovens que se articulam por determinada razão e agem, muitas vezes violentamente, pelos ideais sugeridos. Caso, por exemplo das torcidas organizadas que na Inglaterra ganharam o nome de "Holligans".


O cientista social britânico Eric Dunning, em entrevista cedida a Édison Gastaldo (antropólogo brasileiro),  assim define o que ficou conhecido por holliganismo:

"O termo 'hooligan' em si data dos anos 1890 – supostamente, seria uma corruptela de 'Houlihan', o nome de uma violenta família irlandesa que vivia em Londres – e o termo 'hooligan' aplicado ao futebol parece ter sido usado pela primeira vez com relação a derbies nos anos 1920.

O que se segue (...) é que, na Inglaterra, distúrbios de massa relacionados ao futebol eram vistos até os anos 1960 como um problema das autoridades futebolísticas, e não como um problema dos governos locais ou nacionais ou mesmo da polícia".

E pode-se dizer que a questão dos hooligans foi "resolvida", anos depois, como uma questão que se confinava apenas à relação entre violência e futebol: reação à grupos orgnizados fortemente vinculados por uma identidade clubística.

De acordo com essa lógica a solução encontrada pelas autoridades era pura e simplesmente afastar os "hooligans" dos estádios. Ação entendia como óbvia e elogiadíssima por diversos setores da sociedade britânica, principalmente pela mídia, que encontrou ecos mundo a fora.


Não por acaso, tal atidude, imprimida no final do século XX, coincidia com a explosão de crescimento dos interesses das mega-empresas pela indústria do entreterimento, do qual o futebol era um dos grandes elementos. Mais especificamente, acontecia no exato período em que os estádios europeus recebiam a nova roupagem arquitetônica promovida pelo conceito das Arenas.

Resultado: Alguns dos frequentadores, líderes de torcidas organizadas, foram expulsos dos estádios, proibidos até de circularem no entorno do palco das competições que envolviam o clube ao qual torciam. E, junto com isso, o projeto de um novo modelo de torcedor adentrou em cena.
Contudo, como Dunning e a história nos mostra, a questão é muito mais social do que puramente esportiva. Afastar do estádio lideranças de grupos que se expressam através da violência, apenas fez empurrar o problema para outras áreas.

Um tiro no próprio pé! Pois, a situação se complica na medida em que deixa a possibilidade de concentração dos grupos em determinados espaços, que seriam muito mais fácil de se controlar. Além disso, espalhados pela cidade, a integração tende a se disseminar com mais facilidade.

Vale lembrar que esse processo de remodelação dos estádios, que implica diretamente na mudança de torcedor, é o mesmo pelo qual passamos atualmente no Brasil.

Quem viveu intensamente os estádios na década de 1990 e, ainda, resiste às investidas que procuram afastar o torcedor tradicional - que não significa, necessariamente, organizado ou violento - sabe que, se antes a violência estava no estádio e em seu entorno, hoje o problema pode estar em qualquer lugar.



Nenhum comentário:

Postar um comentário