Os disturbios recentes que se estenderam, além de Londres, por Manchester e Birmigham, teriam relação com os holligans, afastados dos estádios há décadas?
“As gangues oferecem uma relação de pertencimento a uma estrutura, uma disciplina, um respeito que os jovens não encontram em nenhum outro lado”, escreve Ann Sieghart no The Independent.
Dentre as tantas outras, esta análise chama a tenção por estar diretamente relacionada à ideia das associações, em geral, de jovens que se articulam por determinada razão e agem, muitas vezes violentamente, pelos ideais sugeridos. Caso, por exemplo das torcidas organizadas que na Inglaterra ganharam o nome de "Holligans".
O cientista social britânico Eric Dunning, em entrevista cedida a Édison Gastaldo (antropólogo brasileiro), assim define o que ficou conhecido por holliganismo:
"O termo 'hooligan' em si data dos anos 1890 – supostamente, seria uma corruptela de 'Houlihan', o nome de uma violenta família irlandesa que vivia em Londres – e o termo 'hooligan' aplicado ao futebol parece ter sido usado pela primeira vez com relação a derbies nos anos 1920.
O que se segue (...) é que, na Inglaterra, distúrbios de massa relacionados ao futebol eram vistos até os anos 1960 como um problema das autoridades futebolísticas, e não como um problema dos governos locais ou nacionais ou mesmo da polícia".
E pode-se dizer que a questão dos hooligans foi "resolvida", anos depois, como uma questão que se confinava apenas à relação entre violência e futebol: reação à grupos orgnizados fortemente vinculados por uma identidade clubística.
De acordo com essa lógica a solução encontrada pelas autoridades era pura e simplesmente afastar os "hooligans" dos estádios. Ação entendia como óbvia e elogiadíssima por diversos setores da sociedade britânica, principalmente pela mídia, que encontrou ecos mundo a fora.
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Resultado: Alguns dos frequentadores, líderes de torcidas organizadas, foram expulsos dos estádios, proibidos até de circularem no entorno do palco das competições que envolviam o clube ao qual torciam. E, junto com isso, o projeto de um novo modelo de torcedor adentrou em cena.
Contudo, como Dunning e a história nos mostra, a questão é muito mais social do que puramente esportiva. Afastar do estádio lideranças de grupos que se expressam através da violência, apenas fez empurrar o problema para outras áreas.
Um tiro no próprio pé! Pois, a situação se complica na medida em que deixa a possibilidade de concentração dos grupos em determinados espaços, que seriam muito mais fácil de se controlar. Além disso, espalhados pela cidade, a integração tende a se disseminar com mais facilidade.
Vale lembrar que esse processo de remodelação dos estádios, que implica diretamente na mudança de torcedor, é o mesmo pelo qual passamos atualmente no Brasil.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi43e4IxAbyVUkoi1Rgo3jaH0rcQPFHU7AsrWgF5RuNhydOqArkYR4Ryr3XUhp8AcKFARVcweKw_AXRkVSGWvtl67tnlAGxVN8vsoXFlWmuT64PPGsmzFFrqIqLkXQB7EuHRoJ6lOzXK2I/s200/Pacaembu+1995.jpg)
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