terça-feira, 12 de julho de 2011

NÃO APENAS OS ARGENTINOS AGRADECEM MESSI

O “Melhor do Mundo” com suas belas arrancadas, dribles e passes precisos, finalmente deu um presente não só aos argentinos, mas à própria ideia de competição entre seleções nacionais.

Em 2010, numa cerimônia assistida em diversos rincões do planeta, Messi disputou a Bola de Ouro com dois companheiros do fantástico Barcelona: Xavi e Iniesta. 
E o "E.T.", o "jogador de Play Station" (termos do técnico francês Arsene Wenger), foi eleito o melhor. Um fato longe de gerar qualquer polêmica... isso se nos pautarmos nas suas constantes excepcionais apresentações na equipe catalã.

Agora, se lembrarmos do quanto jogam Xavi e Iniesta no próprio Barça e, depois, se somarmos ao quanto gastaram a bola na Copa do Mundo 2010 pela seleção espanhola - principalmente Iniesta na final contra os holandeses - a coisa muda de figura.
E muda ainda mais, ao não podermos negar o decepcionante desempenho de Messi nesse mesmo mundial.

Assim, surgia perguntas: A decisão da FIFA, em ano de Copa, concedendo um título de “Melhor do Mundo” a um jogador que passa apagado pelo mundial seria a maior mostra de que estamos vivendo o processo de extinção das disputas entre selecionados nacionais?
As Copas que tanto impulsionaram paixões e povoam as memórias de amantes do futebol nos mais variados lugares estariam em colapso?
O historiador Eric Hobsbawm, no livro “Globalização, Democracia e Terrorismo” (2007), analisou os reflexos da economia global contemporânea no futebol e percebeu que o esporte que se estruturou por todo o século passado a partir de uma dupla identificação - a local (os clubes) e a nacional (as seleções) – na virada para o XXI, teve esses enlaces com o sentimento popular desgastados. Os negócios empresariais, de umas poucas empresas de marcas globais, tornavam-se incompatíveis com o poder pulverizado entre clubes e seleções espalhados pelo mundo.

Em outras palavras, no século XXI, diante do interesse do mercado, o futebol deveria funcionar na mesma lógica aplicada a outros setores das sociedades: o local deveria ser superado pelo global.

Campeonatos nacionais e continentais seriam substituídos em importância por superligas, com meia dúzia de supertimes da Europa, verdadeiras seleções do mundo - notadamente, compostas por jogadores da América e da África - disputando torneios internacionais entre si. (Alguém duvida que Real Madri, Milan, Barcelona, Inter de Milão, Manchester United, Chelsea, dão preferência à Copa dos Campeões em detrimento do campeonato italiano, espanhol ou inglês?).

Nessa lógica, perderiam os apaixonados por seus clubes; seja no Brasil (lembremos as quedas de Palmeiras, Corinthians, Fluminense, Grêmio, Botafogo, e tantos outros); seja na Argentina (o River - sem querer abusar do trocadilho enfame); seja na África, com tantos craques e sem conseguir elevar seu próprio futebol no cenário mundial; seja até mesmo na Europa, com monótonos campeonatos nacionais de 20 times em que todos sabem quem serão os campeões e os vices.

Contudo, a paixão futebol que queima nos mais variados corações e que tem o combustível na identificação clubística ou nacional, resiste.

E é por isso que Leonel Messi, nessa quarta-feira, na Copa América, fez bem não apenas à seleção argentina que ganhou de 3 a 0 da equipe da Costa-Rica. Fez bem ao futebol como um todo.

A camisa da AFA, de tantas glórias, em tempos de globalização, teve a honra de uma apresentação de um Messi do Barça: de um craque que dá 63 passes e acerta 59 (um deles realizado quando se encontrava caído ao solo – e tão preciso quanto os demais).

Pode-se dizer que a pressão argentina - da torcida, da imprensa, do zagueiro Burdisso - sobre o craque “catalão”, valeu para todos nós. Valeu para mostrar que o futebol, como a vida, ainda não é (e jamais será!) apenas feita por milhões de dólares.

Isso explica o tom efusivo do site do Diário Esportivo Olé, após o jogo: Así te quiero ver - Por fin apareció Messi, por fin apareció la Selección.

Por fim, apareceu o futebol!

6 comentários:

  1. Luciano, parabéns pelo Blog!!!

    Muito bom termos um local na net para podermos ler, conversar e debater sobre o "lado b" do futebol.

    Quanto ao excelente texto de estréia do blog, tentamos ver pelo menos algo positivo sobre a diminuição de identificação do torcedor para com a sua seleção: Na mesma medida em transferimos nossas "paixões nacionais" (no caso seleções) para os clubes, também deixamos de lado (ainda que não nas mesmas proporções) uma série de preconceitos.

    O fato de Messi ter sido eleito o melhor do mundo jogando aquela bolinha na copa mostra, conforme vc disse, uma evidente queda de importância do campeonato de seleções. Mas por outro lado, mesmo no ano em que a "PODERO$A" Espanha faturou o seu primeiro e sonhado título mundial, o título de melhor jogador do mundo ficou com um baixinho sul americano.

    Graças a nossa paixão pelo clube, deixamos de lado uma série de preconceitos que teríamos dificuldade em aceitar se continuássemos com o espírito nacionalista de torcedor da seleção, encarando uma copa como uma "guerra" entre povos. Quando torcemos para um clube, não nos importamos se o nosso jogador é branco, negro, asiático, europeu, carioca ou gaúcho... O que importa é a identidade do mesmo com o clube. E aos poucos parece que este "sentimento de tolerância" esta se manifestando até menos nas seleções. Quem não se lembra da multi-racial seleção alemã na última copa? Isto mesmo, justamente daqueles que um dia já pregaram a superioridade ariana...

    Coisas do futebol, pois assim como o título deste post disse, não apenas os argentinos agradecem Messi, nós brasileiros também ficamos contentes em ver o maior craque da rival seleção argentina jogando muito, apesar de todas as Galvonices e Leifertices que insistem em nos criar uma rivalidade Servo/Croata com nossos hermanos argentinos.

    Lu, mas uma vez parabéns pelo blog, e desculpe pela “viajada nas idéias” rsrs

    Abs,

    Fábio

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  3. É essa a ideia Fábio, tracarmos informações e opiniões; esse será o objetivo maior desse espaço. Seu texto diz tudo, o futebol pulverizado em suas diversas e tradicionais forças, sejam clubísticas ou selecionados nacionais, é um dos maiores méritos desse esporte que de "bretão" mesmo só tem o apelido.
    Valeu pela força!!!!!!

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  4. Luciano muito bom essa tua iniciativa. Não li todos os artigos, somente os sobre o Messi e o Júlio César. No que se refere à má fase do goleiro da seleção, ela também é fruto do péssimo futebol que a equipe vem apresentando desde a Copa do Mundo. É lícito dizer que tais falhas se tornam mais evidentes quando o time perde, e, neste caso, o goleiro pode falhar jamais. Já em relação aos "craques" da seleção, a meu ver, o problema recai na nossa concepção de "craques" - esta sim esta muito enviesada, pois acabamos sendo mal "influenciados" (odeio essa palavra, mas ela cabe aqui como uma luva) pelas opiniões de uma impressa precipitada. Na minha opinião, há um craque efetivo (Messi), três em potencial (Ganso, Neymar e Lucas), sete aposentados (Ronaldo, Pelé, Maradona, Zidane e Zico, Romário, Félix (goleiro)), dois para se aposentar (Ronaldinho Gaúcho e Rivaldo) três mortos (Leônidas da Silva, Garrincha e Eder - jogou no Santos junto com Pelé) e um que não quis se profissionalizar e optou por uma carreira que (ao menos em tese)talvez dê uma contribuição maior para a sociedade (Nelson Ramos, sociólogo). Assim, ainda que seja uma opinião bem particular, acho que temos que rever a nossa concepção de craques, pois vejo "muleke" de futebol de várzea dando show em campo esburacado, que não tem condições de passar na peneira por falta de apadrinhamento, pois muitos cluber exigem dinheiro para vc se manter lá dentro...Enfim, tá aí um bom assunto para ser discutido. Um abraço. VICTOR MARTINS

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  5. Que pecado. Esqueci-me do maior craque de todos os tempos: "MARTA". V.M

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  6. Inspirador o comentário, tanto que fez gerar o próximo artigo.

    Valeu, Victor!

    Luciano

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