quinta-feira, 14 de julho de 2011

JÚLIO CÉSAR BLINDADO

Na tarde de ontem eu teria que ficar numa sala de espera de um hospital por um período aproximado de uma hora. Não me esqueci de levar um livro.

Coincidentemente, eu tirei de minha pequena estante a bela obra de Roberto Muylaert “Barbosa – um gol faz cinquenta anos” (RMC Comunicação, 2000). Um rico depoimento do mais emblemático goleiro, para não dizer jogador, da história do futebol brasileiro.

Já à noite, confesso que sem a mesma emoção do livro, me deparei com os lances do – há muito – atual goleiro da Seleção Brasileira. E Júlio César mais uma vez falhou... e por duas vezes!

Então, deixei-me embalar pela leitura que fiz à tarde.

As memórias de um entristecido Barbosa, que pouco antes de morrer, expunha toda a dor e as catastróficas consequências das pechas que sobre ele haviam recaído ao longo dos anos. Foi inevitável a comparação.

Barbosa sentia-se até o fim de sua vida, um condenado. Apontado por vovozinhas, como o responsável pelo mar de lágrimas no Maracanã em 1950. Expulso por Zagalo, quando visitava a concentração da Seleção em 1998, sob a desculpa de que o ex-goleiro era agourento – mais ridículo ainda quando lembramos o que ocorreu na Copa desse mesmo ano(!). Enfim, sempre lembrado negativamente.

E Júlio César? O que dizer desse goleiro? Não só pelas duas falhas de poucas horas atrás contra a seleção do Equador. Nem por vir titubeante na Inter de Milão, como foi contra o Bayern Munich na Copa dos Campeões da Europa. Nem mesmo pelo 1º gol sofrido contra a Holanda na final da Copa do Mundo de 2010.

O que surge como dúvida é a situação com que Júlio César se encontra na Seleção Brasileira.

Até a final da Copa do Mundo, o goleiro funcionava como um porta-voz, líder. Realmente estava em grande fase, no campo de jogo e na mídia, um grande garoto-propaganda, como bem mostrou a capa da ESPN de fevereiro de 2010:



Depois da derrota, o goleiro, ainda no corredor do estádio Nelson Mandela Bay, surgiu aos prantos. Todos viram, grande foi a exposição da cena pela mídia.

Depois da Copa, clamou-se por mudanças na Seleção, principalmente por parte da imprensa mais poderosa que estava extremamente descontente com o ex-comandante Dunga.

Mudou-se o técnico, alterou-se os “manos” da Seleção, mas logo voltou Júlio.

Dessa vez, não foram tantas as entrevistas. Contudo, o lugar do goleiro quase nunca foi questionado. Enquanto execrou-se uns, outros passaram ilesos. Vimos um Júlio César blindado.

Antes desse último jogo, os “meninos” Neymar, Ganso, Pato, foram coagidos publicamente por Lúcio – na Seleção desde 2000, campeão em 2002 e capitão em 2010 -, com coro de Júlio César.

Os “meninos” jogaram o que tinham que jogar, já Júlio César... 

E agora, quem irá cobrar? Melhor dizendo, alguém irá cobrar?

2 comentários:

  1. Interessante como a globo faz uso da blindagem; pois no globo sport do dia 14/07/2011 comentaram o seguinte: não foi dia de frango, mas de pato. O objetivo aqui é suplantar os frangos do Julio Cesar baseado na boa atuação do atacante pato.

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  2. Pois é, para uns duras críticas, para outros... Vale refletirmos sempre quis são os interesses envolvidos, não é?

    Luciano Deppa

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