sexta-feira, 15 de julho de 2011

CRAQUE, QUEM É?

O comentário de Victor Martins no primeiro artigo motivou a escrita deste. Por isso, além da leitura dos textos - não preciso nem dizer que esse é o combustível necessário para desenvolvermos esse espaço – também agradeço pelas ideias lançadas, coisas de um autêntico camisa 10.

Victor nos diz:
em relação aos "craques" da seleção, a meu ver, o problema recai na nossa concepção de "craques" - esta sim esta muito enviesada, pois acabamos sendo mal "influenciados" (odeio essa palavra, mas ela cabe aqui como uma luva) pelas opiniões de uma impressa precipitada.
 
A questão a respeito de como conceituamos “craque” é bastante pertinente, mais ainda quando se relaciona tal ato às influências da imprensa. Indo direto ao ponto, às inescrupulosas investidas da mídia que diz com tanta naturalidade e convicção determinadas coisas, deixa-nos no mínimo com aquela dúvida perturbadora, como a do tipo: Será que só eu enxergo? Será que ninguém vê o quanto esse cara só dá carrinho no meio de campo, etc, etc, etc?

Contudo, quanto ao conceito em si, confesso que não me sinto à vontade em determinar o que é ou deixa de ser um “craque”, mas afirmo sem medo, o emprego do termo sempre foi e sempre será elástico.

Diga-se, em nossos tempos, classificar pessoas tornou-se uma tarefa de tal complexidade que muitos afirmam ser impossível. A descentralidade dos sujeitos está visível como nunca, seja nas questões identitárias (de classe, de etnia e de gênero – o próprio comentário que em seguida o Victor se viu obrigado a abrir sobre Marta), seja no ato de dizer se este é bom ou aquele é ruim, herói ou bandido. Como diz o intelectual jamaicano Stuar Hall (2004)*, o sujeito pós-moderno é fragmentado, múltiplo, contraditório, incerto.

Ao considerarmos mais que um simples jogo, mas sim como um meio que transparece as mais diversas facetas da sociedade, o futebol, inevitavelmente, vai apresentar as características que compõem essa mesma sociedade. Dessa forma, dizer que um jogador é cabeça-de-bagre ou é uma fera com a bola nos pés, diante das inúmeras câmeras que pegam tudo em detalhes, das despóticas cobranças táticas e de resultados, das constantes mudanças nos materiais esportivos, e tantas outras influências, classificar o craque sempre provocará injustiças.

Mas, nem por isso devemos nos furtar a isso, não é?

Também acredito, como disse nosso amigo, Victor Martins, que o melhor caminho é pensar no que estão fazendo com a escola do futebol, a várzea. O que fazem as escolinhas atuais e todos os envolvidos no processo de formação de atletas, principalmente, qual é a ação da imprensa e dos empresários.

É a isso que este espaço se propõe.

Conto com a colaboração dos apaixonados pelo futebol e pela sociedade como um todo!


* HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade.9.ed. Rio de Janeiro. DP&A, 2004.



2 comentários:

  1. Craque, quem é?

    difícil pergunta, pois como foi dito, o termo craque é muito elástico. Talvez ajudasse a responder esta pergunta questionando primeiramente: Craque, O QUE É?

    Se formos levar a expressão craque como verdadeiros gênios do futebol, só poderemos eleger uma dúzia de atletas, como fez o colega Vítor em seu comentário.
    Mas se desta maneira fizermos, como iremos classificar jogadores quase excepcionais, por exemplo um Alex , Zidane ou Cafu? Apenas bons jogadores? Não seria pouco para eles?

    CASCA GROSSA!!!

    Sem querer sair da esfera do futebol, vou dar um exemplo de outro esporte (MMA).
    Um termo bastante usado pelos comentaristas de lutas para definir bons (ou ótimos) lutadores é o “casca grossa”.
    Casca grossa é aquele lutador quase perfeito: ágil, forte, técnico, resistente, com cartel vitorioso... no entanto, por mais que se dedique, poderá até ser campeão, mas nunca será um Anderson Silva ou um Royce Gracie.

    Voltando ao grande círculo, talvez seja uma expressão como esta que nos falte. Hoje para um jogador assumir o título de craque tem que passar por uma quase beatificação, ser uma unanimidade. Outro dia no estádio 97 estavam debatendo este mesmo assunto, ficaram meia hora citando o nome de excelentes jogadores do passado e presente, e ao invés de lembrarem de suas qualidades, ficaram procurando algum defeito nos atletas.

    Vários nomes foram citados no programa: Ademir da Guia, Sócrates, Falcão, Pepe, Marcos, Kaka, Robinho... Que eu me lembre, nenhum deles teve unanimidade na mesa. Então vamos chama-los de que? Enquanto não inventarem um expressão do tipo “Super Cascas Grossas” do futebol, para mim são todos craques!

    Abs galera!!!

    Fábio

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  2. É isso aí, Fabião!

    A questão é que não há unanimidade. Até Pelé já sofreu críticas, não é?
    Value!

    Luciano Deppa

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