segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

SELEÇÃO BRASILEIRA NA GELADA SUÍÇA, JOGO QUE VALE MAIS PARA LEMBRAR

Longe, muito longe de empolgar, o amistoso das negociatas Teixerísticas vale mais para lembrar de um momento também contubado da Seleção Brasileira.

Amanhã a Seleção Brasileira joga na Suíça, enfrentará no AFG Arena o selecionado Bósnio, às 16 horas.
Logo Copa de 1954

Esqueçamos a seleção dos Manos. Assunto chato.

Agora, pensar na Suíça, aliás, numa fria Suíça e na Seleção Brasileira, faz-se inevitável lembrar da Copa do Mundo de 1954 e, por sua vez, nas polêmicas que envolveram cmissão técnica, jogadores e a fria concentração de Macolin, onde o Brasil se alojou para a disputa.

Para isso, trago um trecho de minha dissertação* que trata exatamente deste assunto:

Macolin era uma região que ficava a 1.000 metros acima do nível do mar, nos montes Jura, em que recentemente havia sido construído o Instituto Federal de Esporte Suíço. Obra realizada por motivações da própria Copa do Mundo para, a partir dali, servir como local de preparo para esportistas das mais variadas modalidades, principalmente, as que envolviam práticas sobre gelo e neve. Instalações, realmente, "estupendas", como disseram os jornalistas da Gazeta Esportiva. Prova disso era a presença da própria seleção do país-sede que ali dividiria espaço com a brasileira. Porém, as condições climáticas causavam evidentes prejuízos ao preparo dos atletas brasileiros.
David Nasser, em outro tom, definia o local:
"(...) Macolin não é uma cidade. Macolin é menos que uma fazenda. Macolin é um sítio nas montanhas, à margem de uma estrada que lembra Teresópolis, sítio adaptado em escola de cultura física." E, caso alguém desejasse conhecer o tal lugar, o cronista carioca dava todos os passos, apesar de, nas entrelinhas, desaconselhar tal façanha: O viajante que chega de avião à Suíça deve rumar para Bienne, Município de 30.000 habitantes, com ruas amplas, grandes hotéis, fábricas de relógios, e dali, se quiser conhecer o lugar onde os brasileiros se encontram, arranjar um táxi (15 francos suíços, pouco mais de 220 cruzeiros) e descer de suéter, casaco e luvas (...). (O Cruzeiro, 19 de junho de 1954, p. 4 a 9).

A "estupenda" estrutura montada pelos suíços existia, porém ficava em um lugar marcado pelo isolamento e pelo frio, muito frio.

Nilton Santos, que já estava em seu segundo Mundial, descreveu tempos depois a diferença existente entre Bienne e Macolin, entre o local em que ficavam os dirigentes da delegação e os jogadores e a comissão técnica. Dirigir-se à Bienne - conforme Nasser indicou para os leitores de O Cruzeiro - significava estar próximo a um centro movimentado, daí ter sido aquela Copa "(...) o paraíso das compras para os dirigentes brasileiros. [logo] Ninguém se preocupava com os jogos ou os jogadores, com o agravante de a chefia da delegação não conhecer sequer o regulamento da Copa.". Contudo, para o zagueiro e seus companheiros permanecer em Macolin significava ficarem "(...) totalmente isolados. Era um local ermo, frio e afastado da cidade. O restaurante também ficava distante, íamos caminhando para fazer as refeições." (SANTOS, 1999: 69).

As motivações dessa escolha devem ser observadas em fatos anteriores. Desde os distúrbios de 1953, em Lima, que foram os últimos de uma série longa de relatos envolvendo problemas de jogadores em concentrações, principalmente fora do país, era uma preocupação constante dos dirigentes agirem no sentido de diminuir tais conflitos. Ainda em setembro do mesmo ano, a CBD publicava um roteiro para toda a eliminatória, com intuito de dirimir problemas, pois os jogadores, segundo escreveu Mazzoni,
"(...) não aceitam com boa vontade as concentrações. Ficam preguiçosos, irritados ou fartos de solidão, e se dizem prejudicados. No estrangeiro, si chegam 10 ou 15 dias antes da estréia ficam indignados (...)." (A Gazeta 17 de setembro de 1953, p.18).

E foi assim que a participação tumultuada na Copa de 1954 se configurou, desde a escolha da sede da Seleção na Suíça.

* Banchetti, Luciano Deppa. "Memórias em jogo: futebol, Seleção Brasileira e as Copas do Mundo de 1950 e 1954". Mestrado. PUC-SP, 2011. p. 197 - 198.


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