quinta-feira, 13 de outubro de 2011

“ÓDIO ETERNO AO FUTEBOL MODERNO!”: TRADIÇÃO X ESPECULAÇÃO IMOBILÁRIA

Este é o principal lema estampado em faixas na Rua Javari, o tradiconal estádio da não menos tradicional equipe do Juventus, do bairro da Mooca, em São Paulo.

O Juventus, hoje na série A3 do campeonato Paulista, já viveu dias melhores, sem dúvida.

Até os anos 1980, o clube da Mooca fazia jus ao apelido “Moleque Travesso” - mascote concebido por Thomaz Mazzoni, editor-chefe de A Gazeta Esportiva que também atribuiu o “Piriquito” ao Palmeiras, o “Espadachim” ao Corinthians, o “Santo” para o São Paulo e tantas outras representações para o futebol paulista.

“Moleque Travesso” porque apesar dos investimentos muito menores e do acanhamento de uma equipe que se voltava para o bairro, o Juventus constantemente aprontava para cima do “Trio de Ferro” – outra criação de Mazzoni para designar os "grandes" da cidade.

Corinthians, São Paulo e Palmeiras, muitas vezes tinham seus planos atrapalhados por um resultado adverso contra o Juventus. E não era uma zebra, pois era contra o “Moleque Travesso”.

Um dos últimos exemplos mais significativos, neste sentido, vem de um jogo do final da década de 1980, num campeonato Paulista.

Nesse jogo, no Pacaembu, o Juventus empatou com o Corinthians por 1 a 1. Uma partida inesquecível, nem tanto pelo placar, mas pelo tento de um garoto chamado Silva, um ponta-esquerda – nessa época tal função já agonizava no futebol – que até hoje só é lembrado por este lance:

Era um domingo, 14 de maio de 1989, dia das mães, e Silva glorificou a sua, mencionando seu nome nas entrevistas que deu às principais emissoras no dia seguinte *. Foi uma bicicleta perfeita que só parou no fundo das redes do excelente goleiro Ronaldo – hoje, comentarista da Rede TV! e que complementa seu nome com Geovaneli.

Mas, os tempos hoje são outros. O Juventus quase não atua contra os times tradicionais do futebol paulista, já que percorre uma trajetória bem difícil nas divisões inferiores, inclusive, muitas vezes ficando vários meses sem atuar.

O futebol de hoje - e as questionáveis decisões de dirigentes que privilegiam determinados interesses econômicos - impõe investimentos grandiosos. Tendência que se choca à filosofia e às possibilidades de muito dos tradicionais clubes do nosso futebol.

E em meio a tais dificuldades e ao boom da especulação imobiliária no país, que, por sua vez, provoca uma transfiguração nos bairros mais tradicionais de SP, a Rua Javari, estádio do Juventus, é o novo alvo.

Construtoras oferecem valores estratosféricos por aquele oásis que é o Estádio Conde Rodolfo Crespi. Uma terrível perspectiva para quem gosta do Juventus como paixão futebolística ou como outras paixões: histórica, cultural, famíliar, arquitetônica, e tantos outros sentimentos que uma simples visita à Rua Javari podem dispertar.

Acalentando o coração desses apaixonados, a diretoria do Juventus se pronunciou mostrando aversão à ideia do capital imobiliário. Como disse o presidente do clube, Antonio Gonsales, ao jornalista Bruno Tadeu:


“Não vamos vender a Rua Javari para as construtoras. Vieram construtoras daqui, de Santos. Eles querem fazer uma Arena Javari na área social do clube para ficar com a área do estádio. Mas não tem negociação. O clube é dos sócios. Não temos dívida”
Contudo, na mesma entrevista o dirigente dá sinais que busca promover algumas mudanças:

"Temos projeto de voltar à elite em 2013 [O clube está na série A-3]. Mas nosso estádio não tem condições de receber o Corinthians, o São Paulo, e os outros grandes. O torcedor fala em tradição, mas vai ver se ele não vai gostar de ter uma arena 30 mil pessoas e receber os grandes em casa. Lógico que vai”.
Vejamos como essa história irá se desenrolar. Até que ponto tais palavras não apontam para os interesses dos especuladores, ou, por outra, de investimentos necessários para o retorno do “Moleque Travesso” ao seu antigo posto.  

Além disso, vejamos até que ponto a torcida que um dia exigiu a retirada do placar eletrônico recém-instalado para a permanência do antigo - manual - iria aceitar a construção de uma Arena.

Antes, porém, o que vale mesmo é não deixar de assistir um jogo do Juventus lá na Rua Javari. Um salutar encontro do tradicional e do novo, uma aula de história.

No vídeo abaixo, visite o estádio e arredores, as instações juventinas:

Neste outro, o estádio antigo recebe o elemento novo: a torcida que resignifica a instituição Juventus:

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