terça-feira, 1 de novembro de 2011

A AULA DE DEMOCRACIA DO VASCO DA GAMA

As belas campanhas nas duas últimas temporadas , evidentemente, só foram possíveis por uma mudança administrativa que contrasta frontalmente com o passado recente que o levou o Vasco da Gama para a Série B.

Nem de longe o Vasco da atualidade, de Roberto Dinamite, lembra aquele antigo Vasco, de Eurico Miranda.

Os desmandos, as jogadas obscuras, o tapetão, foram embora do clube cruzmaltino junto com o ostracismo a que o velho cartola e ex-deputado foi relegado.

O tradicional autoritarismo e acordos de bastidores - que não só o futebol, mas a política brasileira tanto conheceu ao longo da história - sofreu um duro golpe através de uma atitude dos novos dirigentes vascaínos.

O Vasco pretende mandar seus clássicos em seu próprio estádio, o São Januário. E, ao invés de apelar para os conchavos, seus dirigentes enviaram uma carta pública ao secretário de Segurança do RJ. No documento argumentam e fazem o pedido que entendem ser de direito do clube: mandar o jogo da última rodada contra o arqui-rival rubronegro em sua própria casa.

Além da questão levantada parcer óbvia, o mais interessante é reparar que o clube toma uma decisão que valoriza a democracia, respeitando as instâncias de poder, argumentando o porquê busca determinado direito, lebrando o que é de seu dever e respeitando seus adversários. 

Uma aula do Vasco. Por isso, abaixo, segue a carta:

Caro senhor Beltrame,

É com respeito ao trabalho que o senhor realiza que a torcida do Clube de Regatas Vasco da Gama recorre ao seu bom-senso e à sua inteligência para fazer valer um direito que lhe tem sido usurpado nos anos recentes por desmandos de governos anteriores. Como o senhor pôde ter visto na mídia, a campanha "Clássicos em São Januário" tomou as ruas depois de causar rebuliço nas redes sociais e ambientes esportivos. Realmente muitas pessoas aderiram à ideia. Como o senhor bem sabe, realizamos com sucesso na cidade do Rio de Janeiro eventos de importância como o Rock in Rio, shows de proporções gigantescas como o do Rolling Stones na praia de Copacabana, Reveillon para quase 2 milhões de pessoas, sem falar no Carnaval que todo ano recebe o mundo desfilando multidões pelas ruas da cidade, entre outros diversos eventos em escala colossal. Entretanto, só são possíveis graças à mobilização dos organizadores. A logística de trânsito, com ruas bloqueadas, sentidos alterados e, principalmente, um policiamento ostensivo tornaram esses eventos viáveis e muito mais seguros do que em anos anteriores.

Com a Copa do mundo cada vez mais próxima, o futebol brasileiro vem crescendo em ritmo acelerado, clubes constantemente repatriando ídolos, que hoje são referências mundiais e assim trazem todo o foco da mídia e, principalmente, a atenção dos seus torcedores. Nunca na história do futebol os quatro grandes clubes do Rio tiveram chances tão reais de,
além de um deles poder se sagrar campeão, irem todos juntos para a disputa da Copa Libertadores da América. Será uma maravilha se isso acontecer para a força e a projeção do Estado em níveis internacionais! Contudo, temos uma triste contrapartida histórica, a violência.

Como o senhor bem sabe, a violência entre as torcidas não se restringe apenas a essa ou aquela cidade, esse ou aquele estádio. O palco principal de qualquer apaixonado pelo futebol sem dúvida é o Maracanã, estádio de todos os cariocas, e lá, mesmo com toda a fama, ruas de acesso mais longas, metrô e trem, linhas de ônibus, vans e táxis, seus mais de 80 mil lugares de capacidade com entradas e áreas internas espaçosas, foi constantemente palco de lindas jogadas e gols, mas também de violência, dentro, e, principalmente, FORA do estádio.

Desde que foi inaugurado, o assim-chamado Engenhão sofre críticas de todos os torcedores pela dificuldade de acesso, ruas estreitas, trânsito caótico, ausência de linhas de ônibus e de táxis, e também nunca se viu livre de violência. Qualquer busca na ferramenta de busca do Google revela diversos casos de brigas entre torcidas e na enorme maioria, FORA do estádio, em seus arredores, quando não em locais isolados em que marginais marcam confrontos. O nosso estádio de São Januário tem os mesmos problemas que o estádio do Engenhão. Dificuldade de acesso, ruas estreitas e sofre com a violência que na enorme maioria acontece FORA do estádio ou em locais distantes.

Durante as próximas 6 rodadas, a 34 dias de antecedência da rodada final do Campeonato Brasileiro de 2011 a cidade já respira a ansiedade dos momentos decisivos que se aproximam. De hoje até os jogos finais, ainda acontecerão quatro clássicos envolvendo times cariocas. E na rodada que encerra o certame, no domingo, dia 4 de dezembro, teremos dois clássicos acontecendo no mesmo horário. Todos se perguntam: "Onde serão os jogos?". O Botafogo não abre mão do Engenhão para enfrentar o Fluminense. E Vasco x Flamengo que se enfrentarão na mesma hora por necessidade de regulamento? Seria um absurdo quando não uma temeridade retirar o "Clássico dos milhões" dos limites da cidade! São Januário e Engenhão juntos somam cerca de 70 mil lugares de capacidade.

Bares, praças, botecos, restaurantes, todos os locais de concentração de público que tenham um televisor ligado estarão lotados e certamente terão o encontro das quatro torcidas. É nesse momento que intercedemos ao seu bom-senso. O Senhor e a Polícia Militar nos deram provas reais de que se é possível corrigir problemas de violência que atormentam a vida dos cariocas há anos, e, falando franca e respeitosamente, não dá mais para não lançar olhos ao fato de que a violência nos estádios é sim uma questão que pode ser resolvida pela segurança pública.

Poderá ser um dia épico para as quatro grandes torcidas cariocas. O policiamento no dia dos jogos precisa aumentar consideravelmente, não pode se restringir a poucas quadras do estádio. A cidade precisa ser reforçada nesse dia e por completo. Os clubes e a imagem do futebol não podem ser manchadas por atos de violência que ocorrem a quilômetros de distância do estádio. O estatuto do torcedor precisa ser cumprido, vândalos, presos e punidos severamente, leis específicas e urgentes criadas e respeitadas de forma que expulsem o mais breve possível dos nossos estádios os mesmos bandidos que fazem recordar daqueles fugitivos das comunidades pacificadas.

Por essa constante violência, famílias se privam da alegria de curtir o futebol no estádio, torcedores no espírito do fair play e do amor ao clube se preocupam e muitos deixam de ir. Também por esse motivo, o nosso Vasco da Gama é ano após ano prejudicado por conta da falta de segurança. Somos o único clube do BRASIL a ter três mandos de campo a menos do que todos os rivais por conta da não-liberação da Polícia Militar. Dentro do estádio de São Januário existem câmeras, seguranças e policiais o que facilita a identificação dos maus torcedores e isso diminui consideravelmente o número de ocorrências dentro, mas o problema continua sendo na rua. Pedimos apenas que o órgão maior de segurança pública do Estado garanta a tranquilidade e a paz na cidade e que possa dar aos clubes a responsabilidade que lhes cabe de escolher apenas por motivos esportivos o melhor local para exercer o seu mando de campo.

Todas as ruas da cidade estarão à mercê de dois tipos de cenas, as de brigas ou as de pais e filhos, com torcedores de bem, transitando tranquilamente com suas camisas de clubes rumo ao seu destino, seja qual for o resultado. Por essa razão, a torcida do Vasco iniciou a campanha "Clássicos em São Januário". Para mostrar que quem tem o direito vai ver o seu direito garantido pela lei e pela ação do Estado.

Por exemplo, em São Paulo, por muitos anos se alegou que seria uma temeridade realizar clássicos na Vila Belmiro, estádio santista com capacidade menor do que a de São Januário, mas com a intervenção das forças públicas o direito lhes foi concedido e assegurado e, hoje em dia, é natural que os jogos de grande porte aconteçam lá. É apenas isso que a torcida do Vasco deseja, que possa usufruir da própria casa em jogos de importância em que o mando de campo lhe pertencer. Para isso contamos com a sensibilidade e o planejamento de um governo que dá esperanças de que, sim, são os homens de bem que mandam nessa cidade! Não nos tirem esse direito, a Copa do mundo dos cariocas já começou.

Obrigado pela atenção, senhor Beltrame, que se faça valer o direito de quem assim fez por
onde merecê-lo!

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