quinta-feira, 8 de setembro de 2011

PRIMEIROS TEMPOS DO FUTEBOL EM SP, ALGUMAS REFLEXÕES

Há uma semana, em evento promovido pelo LUDENS (Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre Futebol e modalidades Lúdicas), foram trazidas importantes questões a respeito das origens do futebol. Reflexões sobre uma história que pode e deve ser reconstruída.


1918: “É uma empresa arrojada fazer a história dos clubes...”, era ssim que Antônio Figueiredo, em seu livro “História do futebol em São Paulo” (tido como o primeiro do gênero no Brasil)se referia às dificuldades de se estudar sobre as origens do futebol.

E hoje?

Wilson Gambeta e Fábio Franzini durante o evento

O doutorando Wilson Gambeta, no dia 28 de agosto, no departamento de História da USP, apresentou o Seminário:  “O Período de formação do futebol em São Paulo (1895 – 1918)”.

Após destacar as dificuldades para pesquisar o passado do futebol em São Paulo, dado à escassez de fontes históricas, com bases nos avanços proporcionados por seus estudos, o pesquisador chamou a atenção para algumas questões.

Ao lado de Fábio Franzini, historiador com grande reconhecimento nos estudos sobre futebol, Gambeta não trouxe novos dados, mas fez significativos comentários sobre a história tradicional. Perguntas que chocam-se com versões quase nunca questionadas e que acabam por afirmarem-se como verdade absoluta.


Vejam as principais:

1. A questão da origem do futebol

Como também já foi levantado por outros, Gambeta afirma que o mito Charles Miller, não passa mesmo de um mito. Um par de chuteiras, um livro de regras e duas bolas, não seriam os únicos pontos iniciais de difusão de uma prática que contagiou o país.

Além disso, foram também contestadas alternativas encontradas para o mito de origem. Como a de José Moraes dos Santos Neto, em que num Colégio de Itu, um dos padres desenvolveu, com seus alunos, o futebol.

Para o pesquisador, ao se refletir sobre a origem do futebol em São Paulo, deve-se pensar que não há um local, um acontecimento específico, mas, sim, diversos pontos de difusão que pipocaram pelo território.

2. A questão não deve estar na origem e, sim, em como o futebol se nativizou

O maior argumento do pesquisador, neste caso, é que os clubes são muito mais antigos que a prática do futebol. Assim, Wilson acredita que um caminho interessante, está em relacionar a questão com outros esportes que, na virada do século XIX para o XX, chamavam muito mais a atenção: o turfe, a esgrima, a pela...

3. A questão Futebol de Elite X Futebol de Várzea

Ou como dizia o editor-chefe de A Gazeta Esportiva dos anos 1930 aos 70, Thomaz Mazzoni, o “futebol Maior” versus o “futebol Menor”.
Para o pesquisador, também é necessário desconstruir essa ideia hierárquica, pois os primeiros clubes não se enquadravam apenas na classificação “de elite”. Um exemplo citado por Wilson foi o Germânia que era composto por membros da classe média e muitos jogadores de origem operária.

4. O futebol como espetáculo

Os jornais, de modo geral, inclusive os de grande relevância do século XIX e XX, procuravam incentivar a prática publicamente, segundo o pesquisador.

Nesse caso, Gambeta levanta o que lhe soa como a principal questão: Por que a elite foi jogar futebol?

Além disso, ressalta que a presença feminina é outro elemento importante para os estudiosos levarem em conta. Se não na prática esportiva - esta coibida -, pelo menos na assistência, nas arquibancadas. Pois, como espectadora, a mulher foi presença marcante nos primeiros tempos do futebol.


Enfim, essas são questões interessantes para uma revisão histórica. Visões que se perpetuam, tornando-se verdades absolutas e que contribuem para que alguns grupos tornem-se soberanos nos mandos e desmandos do futebol que, por sua vez, tanto encanta e que a tantos contagia.

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