quinta-feira, 8 de março de 2012

CRIANÇA NÃO TRABALHA, CRIANÇA NÃO JOGA BOLA, CRIANÇA O QUE FAZ? REPERCUSSÕES DO CASO WENDEL X VASCO DA GAMA

Faz exatamente um mês que o garoto Wendel, de 14 anos, morreu aos 12 minutos de atividade na peneira do time sub-15 do Vasco.
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Aniversário de 1 mês do ocorrido.

E, talvez, não por mero acaso, justamente depois de uma quarta espetacular propiciada pelos astros Messi e Neymar e bem no Dia Internacional da Mulher o assunto vem à tona através de alguns meios de comunicação.
O tema é delicadíssimo, pesado.

O Ministério Público manifesta-se em duas frentes a respeito não só do acontecido como também do tratamento que se dá aos garotos de categorias de base do futebol - agora, com êfase ao Vasco: por parte da Promotoria da Infância e da Juventude e da Procuradoria do Trabalho.

Ambas têm duas mulheres no comando: a promotora Clisanger Ferreira Gonçalves que é responsável pela apuração de casos de violação dos direitos da criança no Rio, e Danielle Cramer, procuradora do Trabalho.



As duas têm a mesma linha de pensamento: observam “irregularidades”, “alojamentos precários”, “pouco contato com a família” e que os meninos “não conseguem acompanhar a escola”.



Além disso, reclamam que “os meninos não têm contrato de trabalho, nem de aprendiz” e “têm que aguentar uma carga excessiva de treinamento para a idade”.



Palavras que após o caso Wendel chegam até nós com uma ênfase jamais vista.
Pois bem!
Não é novidade para ninguém que o ritmo de trabalho nas categorias de base é intenso. Tão intenso que, contraditoriamente, atrapalha o próprio futebol que, ao longo da carreira, os meninos – cada vez mais hipertreinados – parecem perder.
Isso, precisa mesmo ser revisto. Principalmente, pelos responsáveis por desenvolver a prática futebolístico da molecada em geral.

Quanto aos alojamentos, historicamente, as condições sempre foram difíceis. E, ao mesmo tempo, surge como experiência interessante por parte de muitos atletas. É só procurar as memórias de Zizinho, Nilton Santos, Zico, Pepe e tantos outros tão consagrados ou não. Além dos próprios garotos da atualidade.

Dá pra se melhorar muito, sem dúvida.
Contudo, preocupa o tom que se dá para as palavras da promotoria.

As assertivas sobre o universo dos rapazes que se lançam ao desfio futebolísticos é muito semelhante ao do mundo do trabalho há alguns anos atrás.

Com relação à entrada do jovem no mercado, há décadas atrás, afirmações de inúmeros setores, criminalizaram o trabalho dos jovens. Resultado: afastamento da vida produtiva daqueles quem tinham tanto vontade quanto energia de sobra para, ganhar seu pão e experiências de um universo totalmente novo.
Aos meninos-homens e meninas-mulheres, que – como eu – foram trabalhar em diversos empregos aos 14, 15, 16 anos de idade, viu-se surgir uma geração excuída dessa importante vivência.

E hoje? O que aconteceu? Que faz a maioria dos jovens?

Estudam? Produzem? Têm um cotidiano que os prepara realmente para as mais variadas exigências da cidadania?

Vemos jovens, ao montes, revoltados, perdidos, apáticos diante de uma escola que, nem de longe, dá conta dos seus anceios. Vê-se meninos-homens e meninas-mulheres infantilizados, para a suas consequentes frustrações.
E a família? Está presente na vida de jovens que deveriam ter uma rotina casa-escola-escola-casa?

Jamais! Mas, nem no caso de criancinhas de 5 anos. As mães e os demais membros têm que sair para o trabalho, por “opção” ou não.

Enfim, nem escola, nem família e nem o trabalho. O que lhes sobra? As drogas, o tráfico, a apatia, a televisão, o computador – para os que têm – e, até há pouco, o futebol.

Até agora foi o futebol a atividade simples, mais importantíssima. Esporte que  conseguia agregar o grande sonho de se tornar um jogador profissional, um provável emprego de um provável retorno financeiro e pessoal.

Por isso, até nossos dias, apesar das dificuldades geradas pelas escolinhas e pelos empresários, apresentar-se num time era sensacional!

Poder pisar no terrão e contar essa aventura emociante para os amigos era um grande objetivo dos rapazes. Coisa tão simples para muitos. Mas, diante das palavras das promotoras, parece que tenderá a ser cada vez mais difícil, mais burocratizada, agora, também pelos entraves do Estado.

Aqui não se tem a mínima intenção de defender o Vasco. Mesmo porque não se ganha nada para isso.

O que deve ser entendido  é que o garoto Wendel estava na peneira de um time, nos testes.

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Como exigir que um clube cuide de cada guri que se candidata a jogar no time?

De acordo com a tendência que se apresenta, as exigências farão com que nem as poucas peneiras sejam extintas.

Daqui há pouco, nem jogar bola será possível. Um pai será punido por permitir que seu filho corra atrás de uma bola. O cúmulo do desespero de uma sociedade moderna que agoniza.

Sinto por uma juventude que se empobrece cada dia mais!

* Informações sobre o caso extraído do site UOL.

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